sábado, 22 de setembro de 2007

RIO 40 GRAUS: ENTRE MARAVILHAS E HORRORES DE UMA TERRA INFINITA

Ao ver essa obra me lembrei de uma série de imagens que tenho sobre o Rio geradas pela literatura de Costallat em "Mademoiselle Cinema"(1923), escritor maldito da belle époque que foi injustamente esquecido pela sociedade literária, mas que permanece vivo na minha memória...um RJ limpo e tropicalmente francês, deliciosamente decorado com o malicioso olhar de Rosalina, a melindrosa mais atraente que já existiu, devoradora de homens...Costallat nos mostra as belezas do Rio das elites e sobra pouco espaço para a marginalidade, fortemente visível em "O Cortiço"(1890) de A. Azevedo revelando as dores de um povo sujo e degradado..também meio veio na cabeça o atentado terrorista de Sganzerla em "Copacabana Mon Amour"(1970)sobre a paisagem carioca num delírio arrepiante de Helena Ignez e sua caravana do terror sobre as paisagens que alternava entre a beleza dos corpos nus e o lixo, fuzilando a mente dos mais sensíveis...mas com Nelson Pereira dos Santos (anos 50) vi um RJ mais condensado e sintético, onde ele tenta abordar (de modo caricatural) em seus personagens uma identidade carioca com suas imagens típicas de afirmação cristalizadora: o malandro, o menino de rua, o futebol, o carnaval e outros clichês que hoje em dia já passa desapercebido...É um filme obrigatório, pois inaugura o dito Cinema Novo e nos ajuda a entender a constituição imagética das figuras cariocas mostrando como essa "escola" inicia suas experimentações em busca da linguagem de um cinema social "preocupado com o povo". Sem contar que o final é lindo...O RJ é cheio de significações na arte e para mim Rio "40 Graus" foi a mais encantora, pelo poder de sintetizar o horror e a beleza de um lugar carregado de encantos e armadilhas.Antes de Glauber vem Nelson, não esqueçam!

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