sábado, 22 de setembro de 2007

ANOS 80: (BAR) ESPERANÇA NO CINEMA NACIONAL?







O debate em torno do cinema brasileiro na transição para os anos 80 é bem sintetizado por Ismail Xavier quando nos diz:
"O empecilho da viabilização de um projeto de entretenimento nacional mobiliza a nova geração e alguns cineastas que vêm do Cinema Novo e mesmo do udigrudi (nesse filme encontramos mais uma vez Hugo Carvana e a rainha do kitsch undergrond nacional, Maria Gladys). Em geral, ele tem levado uma incrementação substantiva do nível técnico e a maiores cuidados no ajuste do roteiro e da encenação a uma dramaturgia mais afinada à experiência ficcional oferecida pela TV. Há uma descontração emática - chamada por alguns de desrepressão - e o cineasta tem reinvidicado o direito à fantasia. Com razão, recusa a cobrança de maior rigor realista vindas de cabeças políticas mais dogmáticas e, com razão, se ocupa de "temas menores" , vivências localizadas, sem se obrigar a um estilo de representação que o eleve a grandes sínteses".
Esse é o caso exemplar de um dos maiores representantes do chamado cinemão oitentista: "Bar Esperança" (1983, dir. Hugo Carvana) que trata sutilmente do mal estar e decepção dos rumos tomados pelo cinema, onde seu caráter revolucionário entra em declínio (seria A Idade da Terra o atestado de óbito do cinema social?) no começo dos anos 80, abrindo espaço para um cinema happy e de características novelescas.
Logicamente, não podemos cair na esparrela da generalização...mas a maioria das produções do período se rendeu ao industrialismo cinematográfico...rumo lamentável do nosso cinema.
E uma das exceções do entreguismo visual se chama "Bar Esperança: O Último Bar que Fecha" com a direção de Hugo Carvana (aqui ele não espanca Gladys...rsrsrsrs) que juntamente com Marília Pêra nos emociona, numa história de amor e delicadeza, nos mostrando a poesia das relações microbianas. Não quero discutir a estética ou enrrendo da obra, mas sua representatividade na história do cinema.
Quando digo "mal-estar", é só perceber as intenções contidas na fala dos personagens, que ironizam a condição conjuntural do audiovisual, onde todos se "entregam", se "vendem" à produto da TV de massa: como disse Wilson Grey no filme o que vai acontecer é que "a merda inevitável brotará da terra e do mar" denunciando o fim da rebeldia, muitos intelectuais deixam de ser revolucionários e se aburguesam... vemos a luta constante de Hugo Carvana para fugir desse aprisionamento...sinto uma decepção no olhar dele várias vezes, sua mulher não passa de uma atriz pop em crise afetiva...
O filme é lindo, contar sua história é mero detalhe. O que me icomodou foi a intenção de Carvana fazer cineastas e pesquisadores refletirem o caminho que se tomou tantos anos de investimento numa revolução através do cinema, uma ótima facada nas costas para quem pretende conhecer os anos 80 e refletir a condição de feitura filmográfica e como os artistas agenciavam sua decepção, numa ironia muito bem equilibrada, sem apelar para a chanchada, mas com uma boa dose de erotismo e comédia.
Será que estou correto?

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